Dietas vegetarianas nos ciclos da vida

Nos dois últimos posts eu trouxe um resumo sobre o novo posicionamento oficial da Academy of Nutrition and Dietetics em relação às dietas vegetarianas. (Você pode acessá-los aqui e aqui.)

Hoje eu apresento a terceira parte desse posicionamento, que menciona alguns aspectos importantes sobre as dietas vegetarianas nos ciclos da vida.

De acordo com o documento, a alimentação vegetariana e vegana bem planejada satisfaz todas as necessidades nutricionais em qualquer estágio da vida, incluindo gestação, lactação, infância, adolescência e envelhecimento.

Em posts futuros eu vou escrever, com detalhes, sobre cada uma dessas fases, então hoje eu trago mesmo um apanhado geral do que diz esse documento e relembro a importância do acompanhamento individualizado, caso você se enquadre em alguma dessas fases.

 

GESTAÇÃO E LACTAÇÃO:

  • Alguns estudos demonstram que, quando o acesso à alimentação é adequado, os desfechos de uma gestação vegetariana são similares aos de uma gestação não vegetariana, como o peso da criança ao nascer e a duração da gestação.
  • Praticar uma alimentação vegetariana no primeiro trimestre resulta em menor risco de ganho de peso gestacional excessivo.
  • Dietas maternas baseadas em alimentos de origem vegetal reduzem o risco de complicações, tais como diabetes gestacional.
  • A Academy of Nutrition and Dietetics recomenda uma suplementação de 30 mg de ferro para todas as gestantes, inclusive as vegetarianas, desde o início da gestação.
  • Devido às necessidades maternas aumentadas de zinco na gestação e à menor biodisponibilidade do mineral em dietas ricas em cereais e leguminosas (que apresentam teor mais elevado de fitatos), é recomendado deixar esses grãos de molho antes de cozinhar ou germiná-los, para aumentar a biodisponibilidade do mineral.
  • Gestantes e lactantes vegetarianas necessitam de doses regulares de suplementos de vitamina B12.
  • Bebês de gestantes vegetarianas apresentam menores concentrações do ácido graxo DHA (aquele ômega 3 do peixe) no sangue, e o leite materno também apresenta menores concentrações desse nutriente. Embora o DHA possa ser sintetizado a partir do ácido linolênico (da linhaça, da chia e das nozes), suas taxas de conversão são baixas. Como o DHA é fundamental no desenvolvimento do cérebro e da retina do feto, pode ser recomendável que gestantes e lactantes utilizem suplementos de DHA à base de microalgas.

 

BEBÊS, CRIANÇAS E ADOLESCENTES:

  • O aleitamento materno exclusivo é encorajado nos primeiros 6 meses de vida do bebê. Se não for possível, uma fórmula infantil comercial deve ser usada como a fonte primária de nutrição para o primeiro ano de idade.
  • Após os 6 meses, a alimentação complementar deve ser rica em energia, proteínas, ferro, zinco e pode incluir homus, tofu, leguminosas bem cozidas e abacate amassado. [outro parêntese aqui: os alimentos devem ser introduzidos aos poucos às crianças. O tahine – pasta de gergelim usada no homus – deve ser usado com cautela, porque o gergelim pode ser alergênico em crianças de até 1 ano de idade].
  • Leite de soja fortificado ou leite de vaca integral (se não-vegano) podem ser oferecidos a partir do primeiro ano de idade para bebês que estejam com crescimento normal e ingerindo uma boa variedade de alimentos.
  • Nutrientes de maior atenção nessa fase incluem ferro, zinco, vitamina B12 e, para alguns, cálcio e vitamina D.
  • A ingestão média de proteínas por crianças vegetarianas atinge ou até excede as recomendações. As necessidades de proteínas dessas crianças tendem a ser levemente maiores, devido às diferenças na digestibilidade das proteínas de alimentos de origem vegetal e da composição de aminoácidos desses alimentos. Tem sido sugerido aumentar o aporte proteico em 30 a 35% para crianças de 1 a 2 anos, em 20 a 30% para crianças entre 2 e 6 anos, e em 15% para crianças acima de 6 anos.
  • O status de ferro e zinco dessas crianças deve ser monitorado, e esses minerais devem ser suplementados quando necessário.
  • A vitamina B12 deve ser monitorada em crianças e adolescentes vegetarianos, podendo ser utilizados suplementos regularmente para assegurar sua adequação.
  • Crianças e adolescentes vegetarianos apresentam menor risco de sobrepeso e obesidade, em comparação com seus pares onívoros.
  • Crianças e adolescentes com IMC normal apresentam maior probabilidade de se tornarem adultos com IMC normal, resultando em redução no risco de doenças associadas ao excesso de peso.
  • Consumir uma alimentação vegetariana balanceada enquanto criança pode estabelecer hábitos saudáveis ao longo da vida.
  • Alguns transtornos alimentares podem se manifestar na adolescência, tais como anorexia e bulimia. Esses transtornos apresentam uma complexa etiologia, e a adoção de uma dieta vegetariana não parece aumentar o risco de desenvolvê-los. Contudo, alguns adolescentes com desordens pré-existentes passam a seguir dietas vegetarianas como justificativa à limitada ingestão de alimentos.

 

IDOSOS:

  • As necessidades calóricas tendem a diminuir com a idade, enquanto os requerimentos para alguns nutrientes podem aumentar. Algumas evidências sugerem que a utilização das proteínas pelo organismo é menos eficiente com o envelhecimento, o que pode se traduzir em requerimentos de proteína aumentados nessa fase. Por isso, idosos vegetarianos devem aumentar o consumo de leguminosas.
  • Observa-se que entre idosos vegetarianos é comum uma menor ingestão de zinco, e um estado nutricional pobre em ferro, o que requer especial atenção.
  • Idosos sintetizam vitamina D de forma menos eficiente. Dessa forma, idosos vegetarianos, provavelmente necessitarão de suplementação, se a exposição solar for limitada [e se não ingerirem vitamina D de outras fontes alternativas, como cogumelos e alimentos fortificados, por exemplo].
  • As recomendações aumentadas de cálcio para idosos podem ser supridas através de leites vegetais fortificados.
  • Os requerimentos de vitamina B6 aumentam com a idade.
  • A gastrite atrófica é comum entre idosos acima de 50 anos e pode resultar em absorção reduzida da vitamina B12. Por isso, idosos, independentemente da dieta, podem requerer suplementos de vitamina B12.

 

E por aqui finalizamos esse posicionamento. Sei que algumas coisas são bem específicas e, talvez, mais direcionadas aos colegas de profissão que me acompanham.

Mas se você ficou com alguma dúvida em algum trecho que eu escrevi, por favor me contate! Será um prazer conversar mais a respeito e esclarecer melhor esses tópicos.

Até breve! Seguimos!
Natália Utikava
Nutricionista
CRN/SP 40.387


P.S.: Esse conteúdo é meramente informativo e não substitui o atendimento nutricional individualizado. Dependendo da fase da vida, ou de alguma condição clínica particular são necessários alguns ajustes, e mesmo suplementação, que somente um profissional especializado poderá orientar. Se você deseja adequar sua alimentação conforme sua rotina, fase da vida e necessidades, entre em contato para agendar uma consulta.