Minha história de amor com o Vegetarianismo

1º de Outubro é o Dia Mundial do Vegetarianismo, data estabelecida pela Sociedade Vegetariana Norte-Americana em 1977, e dá início ao Mês da Consciência Vegetariana, que termina em 1º de Novembro, quanto então é celebrado o Dia Mundial do Veganismo.

Eu nunca fui muito ligada nessas datas, mas este ano eu completo 20 anos de vegetarianismo e eu achei que seria bacana dividir com vocês algo sobre minha trajetória com essa filosofia de vida.

Eu me tornei vegetariana aos 15 anos, ainda no Ensino Médio, quando uma garota adventista entrou na minha escola e me chamou atenção o fato de ela ser vegetariana. 

Eu sempre comi carne sem reclamar, ia nas churrascarias com o meu pai, adorava um fast food de hambúrguer e roubava uns pedacinhos de bacon do prato da minha avó quando ela fazia feijão fresco.

Mas, quando me deparei com essa garota, achei curioso ela não comer carne e comecei a estudar sobre o assunto. Na época, a internet era discada, e eu esperava dar meia noite (porque o acesso era gratuito!) para acessar o site da International Vegetarian Union (IVU). Lá eu lia os artigos sobre vegetarianismo e ficava chocada pensando: “como nunca me contaram sobre essas atrocidades que os animais sofrem?”.

Decidi parar com a carne, mas não sabia por onde começar. Até então sabia que a soja seria um substituto da carne, e minha dieta passou a ser arroz, feijão proteína de soja e legumes e verduras. 

Na época, meu homeopata – Dr. Oswaldo Cudízio (um querido, que segue ainda em atendimento e lecionando), falou pra minha mãe que tudo bem não comer carne, e escreveu pra ela numa sulfite em branco que eu precisava comer: feijão, grão de bico, lentilha, soja. 

E assim foi. Aos poucos fui experimentando alguns pratos diferentes, fui aprendendo a cozinhar algumas receitas vegetarianas, e segui a vida.

Escapei algumas vezes no início, confesso. Minhas escapadas aconteceram com hambúrguer e salame. Mas foram poucas porque eu me sentia triste ao comer esses alimentos, depois de tudo o que eu tinha lido a respeito.

Decidi estudar Nutrição, porque eu queria então conhecer mais sobre esse assunto, mas tive poucas informações sobre nutrição vegetariana, especificamente.

Exceto por 1 aula! A AULA! E QUE AULA!!! 

A aula de Nutrição Vegetariana foi ministrada pela Profª Márcia Cristina Teixeira Martins – uma inspiração pra mim na minha profissão. Ela trouxe uma apresentação completíssima sobre o tema, com exemplos práticos e com as curvas de crescimento dos dois filhos dela, que eram vegetarianos desde pequenos, revelando que era possível e saudável seguir essa alimentação mesmo em fase de crescimento, desde que bem monitorada.

Eu fiquei encantada, e comecei a estudar mais sobre o assunto de forma autodidata, já que na época não tínhamos nenhum curso de especialização sobre isso. (Hoje temos, e eu tenho a honra de ser docente em um deles aqui!)

Quando me formei, fiz mestrado e decidi fazer uma pausa na área acadêmica para experimentar atender em consultório. Eu achei que poderia ser bacana focar os atendimentos para a nutrição vegetariana, mas tinha muito medo de acabar não tendo nenhum paciente, porque ainda havia um público muito pequeno.

Aconteceu que em menos de 1 ano eu já estava com o consultório cheio de vegetarianos, veganos, e simpatizantes desse estilo de vida!

Mas tinha um problema. Depois de toda essa trajetória, eu ainda era vegetariana – ovolactovegetariana. Em alguns momentos eu tentei experimentar uma alimentação vegana, mas falhei com algumas pizzas margueritas e pães de queijo.

Eu sentia que eu não estava sendo coerente na minha filosofia, e com os meus pacientes. Eu precisava dar um passo a mais e me comprometer com a retirada total dos ingredientes de origem animal da minha alimentação.

Eu já não consumia mais itens de uso pessoal, higiene, limpeza e vestuário que contivessem ingredientes de origem animal ou que fossem testados em animais, mas o queijo e o ovo ainda me pegavam!

Decidi então que no início de dezembro eu faria a transição para uma alimentação vegana de vez. Antes das festas de final de ano, pra que eu já tivesse em mente que eu precisaria me planejar e me organizar pra preparar os pratos das festas e compartilhar com meus familiares (e garantir o meu lado, claro!).

E assim foi. Desde 08/12/2016 eu não consumo mais nenhum alimento de origem animal, e me sinto muito muito feliz por isso. 

Tenho vontade de comer queijo, ovo? Às vezes sim. Mas não me martirizo, relembro do meu compromisso e sigo a vida fazendo as substituições que considero saborosas, nutritivas e viáveis para a minha condição de vida.

Hoje sou muito grata por poder conciliar a minha filosofia ao meu trabalho. Reconheço que é um privilégio de poucos escolher com o que quer trabalhar, e por isso honro cada paciente que chega até mim confiando na minha orientação e no meu suporte nutricional.

A minha trajetória até me decidir veganizar de vez foi de longos 16 anos, mas eu acompanho pessoas com as mais diversas histórias – gente que veganiza da noite para o dia, gente que vai reduzindo aos poucos, cada um encontra sua medida. Hoje eu tenho convicção de que não existe uma regra, uma hierarquia ou ordem das coisas.

A gente pode evitar comprar cosméticos feitos com ingredientes de origem animal ou de marcas testadas em animais, mesmo que a gente não se defina vegano, ou nem mesmo vegetariano, por exemplo. Ainda que você coma carne, você pode fazer pequenas mudanças, dentro do seu alcance, aos poucos, para que a sua vida tenha uma dependência menor de produtos de origem animal.

Se você come carne, ovo, leite, queijo, mel, nada te impede de experimentar as novas “carnes vegetais”, os “eggs replacements” – substitutos de ovos, os “leites” vegetais, os “queijos” fermentados à base de castanhas, o tofu, o melado de cana. Lembrando sempre que você não precisa de alimentos processados ou desses produtos um pouco mais caros para seguir uma alimentação vegetariana, porque a comida in natura e simples deve sempre ser priorizada –  o arroz, os diversos tipos de feijão, os legumes, verduras, frutas, castanhas, cogumelos (#comidadeverdade!).

Dá pra fazer tudo ao mesmo tempo, experimentando sabores novos, preparações diferentes. Basta se abrir para o novo e deixar as coisas acontecerem!

Talvez tenha aqui algum leitor que discorde dessa minha posição, e que defenda ferrenhamente a transição total e imediata para o veganismo, porque os animais não esperam enquanto a gente se decide e o meio ambiente se degrada ainda mais com a pecuária. Eu concordo também com esse ponto de vista e reconheço a necessidade dessa urgência. 

Mas como eu sempre falo em quase tudo que eu posto, eu prefiro acreditar que existe um caminho do meio, onde mais pessoas conseguem dar os seus passos em direção de um bem coletivo. Sem se espremer, sem jogar ninguém à margem, mas também sem ficar parado, porque o fluxo segue em frente. O futuro é plant-based, eu tenho certeza disso.

“O caminho do meio é muito aberto, mas não é fácil caminhar por ele, pois vai contra a textura de um antigo padrão neurótico que todos nós compartilhamos. Quando nos sentimos sozinhos, quando estamos desesperados, sentimos necessidade de virar para a esquerda ou para a direita. Não desejamos sentar e experimentar o que estamos sentindo. Não queremos passar pela desintoxicação. Mas é exatamente isso que o caminho do meio nos encoraja a fazer. Ele nos estimula a despertar a coragem que existe em cada um de nós, sem exceção, que existe em mim e em você.” (Pema Chodron – Quando tudo se desfaz)

O caminho do meio é, portanto, o caminho do sentir, do experimentar, do desintoxicar, do despertar.

Se você chegou até aqui, fica o convite para abraçar a experiência do Mês da Consciência Vegetariana e exercitar essas 4 palavrinhas: sentir (o seu corpo), experimentar (novos alimentos vegetais e receitas), desintoxicar (a mente dos mitos em torno da alimentação sem carne) e despertar (uma consciência sutil de que somos todos um – eu, você e os animais não humanos)

E aí, topa abraçar essa causa?

Até a próxima!

Um abraço!

Natália Utikava
Nutricionista
CRN 40.387

contato@nataliautikava.com.br


*Crédito da imagem: Noemi Winzen (@noe.production)