Ser vegetariano não é sinônimo de ser saudável

Quando falamos que somos vegetarianos ou veganos para alguém, geralmente somos vistos como pessoas saudáveis, “naturebas”, daquelas que sorriem diante de um pratão de salada, como se isso fosse a única coisa que comemos, não é mesmo?

Mas quando decidimos seguir esse estilo de vida, sabemos que precisamos de mais. Precisamos suprir os nutrientes que viriam da carne, dos laticínios e dos ovos por outras fontes alimentares. E tentamos substituir o ‘espaço’ que aqueles alimentos ocupariam no prato, por opções sem crueldade.

Nos supermercados essas opções já são muitas, com um forte apelo de marketing: alimentos ‘enriquecidos’ com vitaminas e minerais, como ferro, cálcio e vitamina B12, opções cruelty free, sem glúten, sem isso ou aquilo, que nos levam a comprar esses alimentos dada sua praticidade e garantia de que, neles, vamos obter os nutrientes que precisamos.

Na grande maioria das vezes, são alimentos ultraprocessados. Já ouviu esse termo?

São assim chamados porque passam por muitas etapas de processamento, com ingredientes que muitas vezes não conhecemos, por serem utilizados apenas industrialmente. Por vezes deixam de ser ‘alimentos’ e passam a ser ‘produtos’ alimentícios. As famosas carnes vegetais e suas variações (hambúrgueres, linguiças, salsichas, mortadelas, nuggets e outros), a maioria dos leites vegetais de caixinha ou em pó, os sorvetes e queijos veganos, entre outros, são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados.

São substitutos culinários, que tendem a apresentar reduzido valor nutricional, na maioria dos casos.

Não que esses alimentos sejam ruins ou vilões, mas, costumam carregar consigo algumas características indesejáveis, como o elevado teor de calorias, excesso de sal, açúcar, gorduras saturadas, gorduras trans, e aditivos químicos cujos efeitos no organismo muitas vezes não são conhecidos. Tais características são inerentes do processamento, e acontecem tanto entre produtos vegetarianos e veganos, como entre produtos onívoros.

Por isso, quando eu digo que ser vegetariano não é sinônimo de ser saudável eu me refiro ao fato de que, muitas vezes, focalizamos apenas na exclusão de determinados alimentos, mas todo o restante que não envolva exploração animal, está liberado. E esse restante nem sempre é a melhor escolha.

Do ponto de vista da saúde, só tem sentido dizer que ser vegetariano ou vegano é saudável quando temos, efetivamente, uma alimentação baseada em vegetais (no inglês, plant-based diet)… e frescos!

Assim, mudamos o foco do que restringimos, para o que de fato consumimos. Do não, para o sim. E aí não tem erro. Se a base da sua alimentação consiste em vegetais frescos, e você consome uma variedade de verduras, legumes, frutas, grãos integrais, sementes e castanhas, podemos dizer que você tem grandes chances de ser um vegetariano ou vegano saudável. Mas isso também vale se você é onívoro. Coma mais vegetais, e menos alimentos de origem animal. Coma mais alimentos frescos e menos ultraprocessados. Isso já é uma grande mudança para a saúde e para o sistema alimentar como um todo (um dia falarei mais sobre esse tema, mas enquanto isso você pode ler mais aqui).

Vale levantar mais uma observação importante: cozinhar é um ato que aumenta as suas chances de ser saudável. Quanto mais tempo você dedica no planejamento e preparo das suas refeições, mais você passa a refletir, a se conhecer e a compreender sua alimentação como um processo de autocuidado.

Resumindo,

  1. Seja você onívoro, vegetariano ou vegano, faça com que a base da sua alimentação seja composta por uma grande variedade de vegetais frescos.
  2. Evite alimentos ultraprocessados, mesmo que eles sejam de composição vegana ou produzidos por uma indústria de alimentos vegana.
  3. Cozinhe!

Até breve!

Natália Utikava
Nutricionista
CRN/SP 40.387

P.S.: Esse conteúdo é meramente informativo e não substitui o atendimento nutricional individualizado. Se você deseja adequar sua alimentação conforme sua rotina, fase da vida e necessidades, entre em contato para agendar uma consulta.